VIABILIDADE E ACEITABILIDADE DO AUTOTESTE DO HIV EM ESPAÇOS COMUNITÁRIOS - PROJETO FAST

Período:

2018 - 2021

Descrição:

A transmissão heterossexual do HIV é responsável, no Brasil, por 97% das novas infecções nas mulheres. Apesar da redução significativa da transmissão materno-infantil do HIV com a testagem no pré-natal, o acesso ao teste é ainda um obstáculo fundamental para a prevenção e o cuidado do HIV. Apenas 13% dos brasileiros relatam ser testados para o HIV nos últimos 12 meses e apenas 33% já foram testados para o HIV na vida. A recente aprovação do uso de kits de autoteste de HIV no Brasil oferece uma oportunidade para desenvolver uma estratégia voltada para jovens e comunidades urbanas de forma a ampliar o acesso.

 

Objetivo:
Avaliar a viabilidade e aceitabilidade do autoteste de HIV entre mulheres jovens (18-24 anos) que vivem em comunidades com alta prevalência de HIV na cidade de São Paulo.

 

Metodologia:
Pesquisa de tipo formativa, com metodologia qualitativa. Para a coleta de dados foram utilizados: 1) observação etnográfica para mapear áreas de interação social – em termos de lazer, trabalho e atividades da vida diária; 2) entrevistas informais com jovens da comunidade; 3) entrevistas semiestruturadas com informantes chave; e 4) grupos focais com profissionais da saúde e representantes de organizações comunitárias. Os resultados preliminares abaixo se baseiam no mapeamento do território e nas entrevistas com jovens (24 meninas e 13 meninos) e informantes-chave.

 

Resultados:
Morar do “outro lado da ponte” do rio Tietê é um primeiro demarcador que organiza os espaços de circulação e sociabilidade dos jovens da região estudada e define não só um limite geográfico, mas também simbólico. Localizada na periferia norte da cidade de São Paulo, a Vila Brasilandia é composta por vários territórios separados das áreas mais ricas da cidade pelo Rio Tietê. É uma das regiões mais pobres da capital, com altas taxas de violência e tráfico de drogas. Composta por vielas, becos e ruas estreitas; há poucos espaços públicos destinados ao lazer. Os serviços públicos de saúde também não costumam ser utilizados pelos jovens, que só buscam este recurso em situações extremas.

Ao mesmo tempo, essa região se caracteriza pela multiplicidade de espaços de sociabilidade criados pela própria população jovem, de modo menos ou mais organizado. São os chamados “rolês”, formas de interação de jovens com uma linguagem própria, nos quais “colam” ou frequentam distintos grupos. Há rolês de “diversão” e de “pegação”, embora seus limites possam se confundir. Por exemplo, as tabacarias e os eventos culturais fazem parte dos espaços de lazer, onde os jovens vão para se divertir, beber, fumar e conversar. Já os “pancadões” e bailes funk, constituem os “fluxos”, nos quais os jovens se reúnem para dançar, “paquerar” e “ficar”. Além da bebida, outras drogas podem estar presentes.

A circulação nesses espaços de certa forma define como os jovens são representados: baderneiros, bom para namorar, só para ficar, etc… As redes socais são usadas para viabilizar encontros, divulgar eventos, fazer amizades e para situar quem é quem na “quebrada”, ou seja, o “histórico” de cada um/a. O uso de camisinha se relaciona a esse “histórico”, e é rapidamente dispensado se a garota tem um bom “histórico”: “eu posso ser sujo, mas ela tem que ser limpa”. Já no “sexo ao vivo” que pode acontecer nos “fluxos”, a disponibilidade do preservativo é o elemento determinante para seu uso, mas cabe ao homem ser o portador.

A testagem para o HIV constitui uma tecnologia de prevenção pouco conhecida pelos jovens. Eles sabem que existe, mas principalmente os rapazes não dispõem de muitas informações a respeito. Apenas uma das jovens entrevistadas havia feito o teste no contexto do pré-natal, já o autoteste é completamente desconhecido por todos.

 

Conclusões preliminares:
As interações afetivas e sexuais ocorrem preferencialmente nos locais de convívio cotidiano e nos locais de sociabilidade do bairro de residência, embora jovens de outras periferias da cidade também possam participar. Nesse sentido, qualquer proposta de intervenção dirigida aos jovens deve levar em conta as formas de expressão da sexualidade juvenil, como também estar integrada às diferentes formas de linguagem e aos espaços de sociabilidade existentes no território.

Produção relacionada ao projeto:

Coordenador(a):

Kiyomi Tsuyuki (Coordenação Geral); Profª. Drª. Regina Barbosa (Coordenação Local)
  • Daniela Riva Knauth (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFGRS)
  • Wilza Vieira Villela (consultora independente)

Instituições envolvidas:

  • Núcleo de Estudos de População Elza Berquó- NEPO/UNICAMP
  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFGR
  • Universidade da California – San Diego
  • Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids – ABIA

Financiador:

CNPq/MS-DIAHV #11/2018, processo 404032/2018-4 | MCTIC/CNPq #28/2018, processo 408513/2018 | CFAR - #2P30AI036214-24