Por Yasmin Castro, g1 Campinas e Região


  • Dados dos cartórios mostram que os campineiros estão casamento menos.

  • O número de casamentos caiu de 8,5 mil para 6,4 mil em oito anos.

  • Para especialista, três fatores podem ajudar a explicar o índice.

  • São eles a virtualização das relações, os novos valores morais e o pós-pandemia.

Enfeite de bolo de casamento — Foto: Prefeitura de Uberaba/Divulgação

Os moradores de Campinas (SP) estão casando menos, segundo dados da Associação de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Em 2023, a metrópole registrou 6,4 mil matrimônios, número 24,8% menor do que em 2015. 💔

O balanço, que leva em consideração as uniões realizadas mensalmente pelos Cartórios de Registro Civil, aponta para uma redução gradativa ano após ano. Isso porque, até 2018, o número de registros passava de 8,1 mil anualmente.

De 2019 em diante, porém, o índice sofreu instabilidade e começou a cair. Dessa vez, o indicador só não ficou mais baixo do que o observado nos anos de 2020 e 2021, durante a pandemia da Covid-19, quando o funcionamento dos cartórios ficou comprometido.

Para a cientista social e demógrafa Joice Melo Vieira da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ouvida pelo g1, cenário pode estar relacionado a três fatores principais (confira os detalhes abaixo):

  • 📲💘 a virtualização dos relacionamentos;
  • 👦👴 os valores das novas gerações;
  • 🦠😷 a pandemia da Covid-19, que causou impactos no comportamento e na economia.

Novos gerações, novos jeitos de paquerar

Na visão da pesquisadora, o cenário é, ao mesmo tempo, geracional e de momento vida. Ela acredita que ser jovem hoje talvez seja mais complicado do que 20 ou 30 anos atrás e afirma que essa faixa da população vem sendo impactada por duas fortes tendências. Juntas, elas podem ajudar a explicar a redução nos casamentos. São elas:

  • a virtualização dos relacionamentos afetivo-sexuais;
  • a dificuldade cada vez mais acentuada entre os jovens adultos para encontrar estabilidade laboral e financeira - vista por muitos como condição necessária para formar uma família.

Sobre a primeira, Joice diz que “a cultura do aplicativo para relacionamentos mudou radicalmente a forma como as pessoas se conhecem e investem, ou não, em suas parcerias. Se por um lado é fato que facilita o contato entre as pessoas, por outro também cria a ilusão e a ansiedade de que o melhor está por vir”.

“A pessoa sempre quer ver se o próximo perfil é mais interessante. Isso gera uma superficialidade e baixo compromisso se as pessoas não tiverem muita clareza sobre o que procuram”.

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Quando as relações firmam e se tornam duradouras, para as novas gerações, tem sido comum a manutenção de um relacionamento sem registro em cartório, por vários motivos, analisa Joice. “Existe por um lado mudanças na esfera dos valores, muitas vezes com menor adesão dos jovens a preceitos religiosos que preconizam o casamento”.

“Tenho a hipótese de que muitas pessoas já não se sentem aptas ou capazes de dar esse passo. Outras, já não veem esse passo como indispensável em suas vidas afetivas, pois preferem morar junto sem formalizar a união, e sem a intenção de evoluir para o casamento em cartório ou igreja. Um terceiro grupo parece abraçar a solitude”.

Efeito pandemia, do isolamento às finanças

Mulher em isolamento social — Foto: getty images

Com a pandemia da Covid-19 e a necessidade de isolamento social, esse comportamento se tornou ainda mais evidente. “Pessoas deixaram de se conhecer”, pontua Joice. “Quantas e quantas pessoas que não usavam aplicativos e eram pouco afeitas a relacionamentos virtuais, aderiram a essa alternativa durante as fases mais intensas de isolamento social?

No entanto, além de afetar o funcionamento dos cartórios e impactar na socialização, a Covid-19 também deu um duro golpe na economia e fez com que uma parte considerável da população ficasse com a vida ‘em suspenso’. “Muitas pessoas perderam seus empregos e viram sua renda se reduzir drasticamente”, comenta.

“Acho bastante plausível que mesmo aqueles com parceiro não se sintam aptos a casar nesse momento, adiando essa decisão para quando alcançarem maior estabilidade material, o que ainda parece algo muito incerto, apesar da melhora nos indicadores de desemprego [...] Foi um momento de descontinuidade e isso ainda deve reverberar por alguns anos subsequentes”.

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