O Censo Demográfico representa o principal levantamento sociodemográfico do Brasil, constituindo a única pesquisa capaz de estimar o total de imigrantes internacionais residentes no país, documentados ou não, inseridos no mercado de trabalho formal ou informal, recém-chegados ou sobreviventes de processos migratórios mais antigos. Sua periodicidade é “regulamentada pela Lei no 8.184, de 10 de maio de 1991, que estabelece um máximo de dez anos para o intervalo intercensitário” (IBGE, 2010, p.5)1.
A pesquisa abrange todas “as pessoas residentes, na data de referência2, em domicílios do Território Nacional” (IBGE, 2010, p.10)3. A coleta das informações foi realizada no período de 1º de agosto a 30 de outubro de 2010 “através de entrevista presencial realizada pelo recenseador, sendo a resposta registrada em um computador de mão, ou pelo preenchimento do questionário via Internet” (IBGE, 2010, p.11).
Vale ressaltar que o Censo Demográfico é composto por dois tipos de questionários: o básico, com um menor número de perguntas, aplicado a todos os domicílios; e o da amostra, com um volume maior de informações, aplicado apenas a uma parte dos domicílios no Brasil. Na definição da amostra do Censo de 2010, “foram aplicadas cinco frações de amostragem, considerando os tamanhos dos municípios em termos da população estimada em 1o de julho de 2009” (IBGE, 2010, p.12)4. Por compor o questionário da amostra, os quesitos referentes à imigração internacional podem apresentar distorções em função da expansão amostral, sobretudo nos pequenos municípios5.
Embora o Decreto nº 73.177, de 20 de novembro de 1973, ainda hoje válido, declare a obrigatoriedade de prestação de informações ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, garantindo a privacidade e o sigilo dos informantes, a complexidade da operação censitária no Brasil – um país de dimensão continental e atravessado por desigualdades de todas as ordens – pode incorrer em problemas na qualidade e cobertura dos dados produzidos. Souchaud (2008), por exemplo, relata a pouca confiabilidade dos dados censitários referentes à população boliviana na Região Metropolitana de São Paulo. Ainda assim, o autor reconhece a centralidade do Censo Demográfico na análise das características desse grupo, tomando o conjunto de suas estimativas como um retrato aproximado das condições sociodemográficas dessa população (SHOUCHAUD, 2008).
A despeito das limitações que o Censo Demográfico possa ter para o estudo das migrações internacionais, é fundamental reiterar a riqueza dessa pesquisa, muitas vezes a única fonte “de informação para planejamento e para formulação de políticas em âmbito local” (JANNUZZI, 2017, p.49). O censo brasileiro é um dos mais completos do mundo, considerado modelo a ser observado por outros países, tanto por suas inovações tecnológicas, quanto por seu pioneirismo temático (JANNUZZI, 2017; IBGE, 2010).
Para construção desse painel, foram consideradas os seguintes quesitos:
Todos os indicadores selecionados podem ser construídos a partir dos microdados da amostra do Censo Demográfico 2010, disponibilizados pelo IBGE na Internet8. Algumas dessas informações também estão no Sistema do IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), uma ferramenta que permite acessar de forma simples e rápida dados de pesquisa e estudos realizados pelo instituto9.
NSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Notas Metodológico do Censo Demográfico 2010. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/pt/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=295987. Acesso 26/11/2020.
JANNUZZI, Paulo de Martino. Indicadores Sociais no Brasil. Campinas: Editora Alínea, 2017.
Sylvain Souchaud. A imigração boliviana em São Paulo. Deslocamentos e reconstruções da experiência migrante, Sep. 2008, Rio de Janeiro, Brazil. Disponível em: https://hal.ird.fr/ird-00486059/document. Acesso 26/11/2020.
1Por conta da pandemia de Covid 19, o Censo Demográfico de 2020 foi adiado para 2021.
2“A investigação das características dos domicílios e das pessoas neles residentes teve como data de referência o dia 31 de julho de 2010” (IBGE, 2010, p.14). Já a investigação das características de trabalho teve como semana de referência a semana de 25 a 31 de julho de 2010” (IBGE, 2010, p.15).
3As embaixadas, consulados e representações do Brasil no exterior, embora sejam considerados parte do Território Nacional, não são incluídos na operação censitária (IBGE, 2010).
4Nos municípios com até 2.500 habitantes, a fração amostral foi de 50%, ou seja, em metade do total de domicílios foi aplicado o questionário da amostra. Os que tem mais de 2.500 até 8.000 habitantes tiveram a fração amostral de 33%. Nos municípios com mais de 8.000 até 20.000 habitantes, a fração foi de 20%. Já nos que tem mais de 20.000 até 500 mil habitantes, a fração foi de 10%. E, por fim, nos municípios com população maior que 500 mil, a fração foi de 5%. Informação disponível em:https://ces.ibge.gov.br/apresentacao/portarias/200-comite-de-estatisticas-sociais/base-de-dados/1146-censo-demografico.html.. Acesso 26/11/2020.
5Na construção das informações apresentadas nesse painel, os valores resultantes da multiplicação do fator amostral foram arredondados e depois somadas. Casas decimais acima de 0.5 foram arredondadas para cima e as casas decimais iguais ou menores a 0,5 foram arredondadas para baixo. Diferenças nessa operação podem induzir a pequenas discrepâncias nos valores totais.
6A definição de rural e urbano, no Brasil, é responsabilidade dos municípios. Para realização do Censo, o IBGE utilizou a Lei Municipal vigente em 31 de julho de 2010.
7Por contemplar apenas estrangeiros, as informações aqui apresentadas podem não coincidir com estimativas expostas em outras publicações do Observatório das Migrações em São Paulo.
8Disponível em:https://www.ibge.gov.br/estatisticas/downloads-estatisticas.html. Acesso 26/11/2020.
9Disponível em:https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/demografico-2010/amostra-nupcialidade-fecundidade-e-migracao. Acesso 26/11/2020.
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