Edição do dia 03/06/2011

03/06/2011 23h30 - Atualizado em 06/06/2011 12h02

Mulheres pedem mais ajuda médica e psicológica do que os homens

Uma pesquisadora acompanhou vários casamentos e descasamentos e constatou que, após três anos, a maioria dos homens já tinha se casado outra vez. E a maior parte das mulheres encarava a vida sem companheiros.

Beatriz ThielmannCampinas, SP

Quem convive melhor com a solidão: o homem ou a mulher? Uma conclusão já existe. As solitárias pedem mais ajuda médica e psicológica do que eles. Esse é um movimento ainda pouco comum entre os homens. Quando os casais se separam, quem refaz a vida conjugal mais depressa? Essa curiosidade levou a uma pesquisa pioneira na Universidade de Campinas em São Paulo.

“Viver só e bem, nenhum dos dois. Mas as mulheres manejam suas vidas sem companheiro, como todas as pesquisas mostram, um pouco melhor do que os homens. Os homens vivem um desconforto maior em estar”, explica a demógrafa Gláucia Marcondes, da Unicamp.

A pesquisadora Glaucia Marcondes acompanhou a história de vários casamentos e descasamentos. Constatou que, depois de dois ou três anos de separados, a maioria dos homens já tinha se casado outra vez. E a maior parte das mulheres encarava a vida sem companheiros. Será mais fácil para elas lidar com a solidão?

“Ninguém chama o homem separado para um churrasco familiar. Já as mulheres têm a companhia dos filhos. Então, elas são convidadas mais até em função das crianças”, aponta a demógrafa da Unicamp.

E os homens? Do que precisam para não se sentir tão sozinhos? “O homem adulto quer ter uma casa, uma companheira, e essa companheira ter os cuidados de cama e mesa. Várias mulheres que eu entrevistei falaram que gostariam de ter novo companheiro, mas elas queriam escolher melhor. Por que eu vou escolher uma vida que me dá mais prejuízos, dor, cansaço e estresse, se eu posso construir a minha vida de outra forma?”, diz Gláucia Marcondes.

Um grupo de 30 estudantes e professores de psicologia atendem no Hospital da Universidade de São Paulo. Eles não esperam pelos solitários. Duas vezes por semana, saem à cata de quem precisa falar. É no pronto-socorro do hospital que identificam de longe os pacientes com doenças diversas, mas com dores que partiram lá do fundo da alma.

Globo Repórter: Qual é a reação de certos pacientes a esta pergunta tão simples: “Como você está passando hoje?”
Ana Clara Costa, psicóloga: Às vezes, é meio assustadora. Às vezes, eles agarram essa oportunidade e falam. Aí, a gente pode fazer um atendimento ali.
Globo Repórter: É fácil identificar um paciente que está pedindo ajuda porque ele não agüenta mais ficar tão só?
Walter Coutella Jr, psicólogo: O hospital é sempre uma situação atípica na vida das pessoas. A partir desse contexto, então, fica fácil mostrar o sofrimento.
Globo Repórter: Qual é a maior dor da solidão?
Henriette Morato, do Instituto de Psicologia da USP: Eu diria que é me deparar comigo mesmo e perceber que eu estou por mim e que eu tenho que fazer escolhas e decisões e que não dá para contar com ninguém. Dá para trocar, para falar. Mas aquilo que eu verdadeiramente sinto, a emoção que me toma é única e exclusivamente minha.