Economia

IBGE vai reduzir questionário para cortar 25% dos custos do Censo 2020

Orçamento inicial da pesquisa é de R$ 3,4 bilhões. Instituto afirma que não haverá perda de informações
Testes de coleta para o Censo 2020 Foto: Licia Rubinstein / Divulgação/IBGE
Testes de coleta para o Censo 2020 Foto: Licia Rubinstein / Divulgação/IBGE

RIO - Pressionado pelo governo federal a cortar custos, o IBGE vai reduzir o questionário do Censo 2020 para diminuir em 25% o valor total desta que é a maior operação do instituto, estimada em R$ 3,4 bilhões. Em nota, o IBGE informou que o corte é necessário porque o orçamento do Censo precisa ser aprovado pela União e a "diretriz do governo federal é de restrições orçamentárias".

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"A operação está sendo revista, de modo a ter um custo cerca de 25% menor que a previsão inicial. Com isso, torna-se necessário ajustar os questionários, de modo que se possa eleger que informações fundamentais devem ser pesquisadas no Censo e quais podem ser obtidas por outras pesquisas amostrais". O instituto garantiu que não haverá perda de informações.

"O objetivo do IBGE é realizar um Censo menos custoso, com qualidade e sem perda de informação", diz a nota.

Durante a posse da nova presidente do instituto, Susana Cordeiro Guerra, em fevereiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeriu que o IBGE vendesse parte de seus prédios para viabilizar o Censo . Guedes também recomendou que a pesquisa fosse simplificada, com menos perguntas.

Um servidor do IBGE que preferiu não ser identificado disse que a redução do tamanho do questionário permitiria que os recenseadores passassem menos tempo em cada lar. Dessa forma, cada um poderia visitar um número maior de domicílios e o instituto poderia reduzir o número de contratações temporárias. A previsão inicial é de contratação de 250 mil recenseadores, todos temporários, para visitar os 70 milhões de lares brasileiros.

Mas este mesmo servidor pondera que a redução de contratações teria pouco efeito na meta de economia estabelecida, pois os recenseadores ganham por lar visitado e todos os domicílios brasileiros precisam responder os questionários. Porém, com menos temas a serem investigados, diminui o tempo de treinamento e a quantidade de material a ser disponibilizada aos recenseadores.

- É um erro lamentável fazer um corte dessa tamanho (25% do orçamento) e perder informações que são utilizadas durante dez anos. Diminuir o questionário não reduz o tempo de cada entrevista porque até bater na casa, sentar no lugar, isso leva tempo - endossa o economista Cláudio Considera, pesquisador da FGV e ex-chefe de Contas Nacional do IBGE.

Especialistas em estatística defendem que a diminuição do número de perguntas pode trazer prejuízos ao país, pois o Censo gera uma série de informações sobre a população. A cada dez anos, recenseadores do IBGE percorrem todo o território nacional, domicílio por domicílio, para coletar dados sobre a população. Os testes de coleta do Censo 2020 começaram no mês passado, em 53 municípios do país. O Censo está programado para ir a campo em agosto do ano que vem.

- Não é só a perda de séries históricas que preocupa, mas a operacionalização da pesquisa, pois o projeto piloto já foi testado, os equipamentos já foram programados com um questionario e agora vão ter de retirar questões? Fica a apreensão - diz Alberto Jakob, coordenador do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó (Nepo), da Unicamp.

O presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Ricardo Ojima, também teme que não haja tempo hábil suficiente para operacionalizar o novo questionário:

-  Não dá para cortar um quarto do orçamento sem sacrifícios. Perdas virão. E uma economia desse tamanho não prejudica só a quantidade de informações que serão coletadas, mas a qualidade também.

Em entrevista concedida ao GLOBO no mês passado, o ex-presidente do Instituto Internacional de Estatística de 2015 a 2017, Pedro do Nascimento Silva, reforçou que a pesquisa "é um alicerce para outras e para a tomada de decisões pelo Estado e a definição de políticas públicas" , pois só o Censo dá informações detalhadas sobre os mais de cinco mil municípios brasileiros.

É a base para a União distribuir recursos a estados e municípios, direcionar campanhas de saúde e definir a quantidade de vacinas necessárias em cada cidade, além de ser norteador da construção de escolas e da alocação de vagas.

O IBGE garantiu que eventuais alterações no questionário só serão implementadas após serem consultados a comissão do Censo, a comissão técnica do instituto, o grupo de especialistas e órgãos internacionais.

Simon Schwartzman, presidente do IBGE de 1994 a 1998, integra o conselho técnico da instituição e aguarda ser convocado para uma reunião sobre as mudanças que serão propostas:

- O conselho não tem capacidade de decisão, é consultivo. Sempre que você corta, perde algo. Mas não tem jeito, diante da situação de constrangimento financeiro do nosso país, temos de nos adequar.

O IBGE é o maior produtor de indicadores socioeconômicos do país. Antes mesmo do enxugamento do Censo, havia temor de que a pesquisa fosse prejudicada devido à aposentadoria de funcionários, sem perspectiva de serem repostos.

Segundo a direção do instituto, desde 2008, o efetivo encolheu em um terço, para cerca de 5 mil servidores. Para agravar a situação, em novembro, o IBGE soltou alerta no qual dizia que mais 36% dos funcionários poderiam pedir desligamento a qualquer momento, pois já estariam aptos a se aposentar.