Edição do dia 15/06/2010

15/06/2010 08h11 - Atualizado em 15/06/2010 08h11

Estudo inédito mostra que São Paulo ficará até 4°C mais quente este século

Se São Paulo já sofre com o excesso de chuva e a poluição, o que fazer para evitar o pior no futuro? Especialistas da USP, do Inpe, da Unicamp e outros institutos preveem cenários preocupantes até o fim do século.

Um estudo inédito no Brasil mostra os impactos do aquecimento global na maior cidade do país. Se São Paulo já sofre com o excesso de chuva e a poluição, o que fazer para evitar o pior no futuro? Especialistas da USP, do Inpe, da Unicamp e outros institutos preveem cenários preocupantes até o fim do século.

A cidade de São Paulo é um horizonte de concreto.

“A urbanização, o crescimento, o asfalto e a falta de vegetação modificaram totalmente o clima da cidade. As temperaturas, hoje, no centro de São Paulo, são em média 3°C mais quentes do que cem anos atrás”, explica o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre.

A natureza se transforma e se revolta. Em toda a década de 1930, a maior cidade brasileira teve nove dias de chuva intensa, superior a 50 milímetros. Já entre 2000 e 2009, foram 40 dias extremamente chuvosos.

“São Paulo já modificou o clima dentro da cidade e no entorno de uma maneira muito mais expressiva do que o aquecimento global fez até agora”, destaca o pesquisador do Inpe.

Um estudo inédito sobre as mudanças climáticas em São Paulo mostra que o problema ainda vai piorar.

Veja, em vídeo, um mapa com a projeção das mudanças na área urbanizada na cidade de São Paulo entre 2008 e os próximos 20 anos. Segundo os pesquisadores, a mata fechada do extremo norte de São Paulo, no limite com a cidade de Mairiporã, Serra da Cantareira, já estará ocupada até 2030. Aliás, a ocupação já começou. Algumas casas abriram espaço no meio da encosta.

“O clima muda completamente. A mata ajuda a manter a umidade do ar. Com a impermeabilização do solo por materiais que retêm muito calor, a superfície começa a ficar mais quente. No futuro, irão ocorrer fenômenos como ilhas de calor”, afirma a pesquisadora da Unicamp, Andrea Young.

O estudo prevê que ainda neste século São Paulo já será de 2°C a 4°C mais quente do que hoje. A terra da garoa vai ficando sem garoa e com mais tempestades.

“Se o fenômeno da contínua urbanização da cidade não for disciplinado por meio de políticas públicas, no futuro, as pessoas vão morar em áreas de risco até maior que as de hoje”, explica o pesquisador Carlos Nobre.

Áreas como uma favela, que tem muitos barracos construídos à beira do rio. “Quando chove muito, as pessoas não podem nem sair de casa. Minha casa enche de água também. Há doenças: tosse forte, gripe forte, às vezes, doença de rato por contaminação”, diz a moradora de uma favela, Marilda de Moraes.

O estudo alerta que as ilhas de calor nas áreas urbanizadas podem provocar mais mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares, principalmente nos idosos.

“Todos nós, independente do nível social, vamos pagar um preço alto por estarmos imobilizados, por não conseguirmos exercer nossas atividades. É uma pena que tenhamos que pagar com doenças e mortes, as consequências dos nossos atos, de nosso modelo de desenvolvimento urbano”, lamenta o pesquisador da USP, Paulo Saldiva.
 

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