Por Rodrigo Pereira, G1 Campinas e Região


Um estudo inédito lançado nesta quinta-feira (22) pelo Núcleo de Estudos da População “Elza Berquó” (Nepo), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), aponta que, diferente do que ocorreu nos séculos 19 e 20, quando os fluxos migratórios se concentravam nas capitais, principalmente em São Paulo, no cenário contemporâneo eles têm se deslocado para o interior, acompanhando a distribuição de empresas transnacionais para essas localidades. Outra pesquisa, divulgada simultaneamente, também mostra uma tendência para imigração entre países do hemisfério sul.

O "Atlas Temático Observatório das Migrações - Migrações Internacionais" e o livro "Migrações Sul-Sul" utilizam dados da Polícia Federal (PF) e do governo federal, que traz diversas informações sobre as pessoas que obtêm o Registro Nacional de Estrangeiro (RNE), documento concedido a quem é admitido no país na condição de temporário, permanente, asilado ou refugiado.

Autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros
Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência Social

De acordo com o levantamento, de 2000 a 2015, foram registrados 391.282 imigrantes com o Registro Nacional de Estrangeiro, dos quais 256.979 estavam no município de São Paulo, e 35% se dirigiram para o Interior, com 470 municípios do Interior (excluindo os municípios da RMSP) com registro de imigrantes. O país segue a tendência, segundo as análises.

Já entre 1890 e 1929, entraram 2.522.737 imigrantes internacionais no Estado de São Paulo, dos quais 43% ficaram na cidade de São Paulo. "Isto porque a política era para trabalho em fazendas de café no interior paulista", analisa a cientista social Rosana Baeninger, uma das organizadoras do estudo.

"Os últimos cinco anos que o Atlas pode nos trazer é justamente a interiorização das migrações internacionais. Estávamos muito mais acostumados à concentração da imigração na cidade de São Paulo e os dados mostram justamente que há um espraiamento dessa imigração, tanto de mão de obra qualificada quanto de menor qualificação e de diferentes nacionalidades", explicou a pesquisadora.

Apresentação dos estudos sobre fluxos migratórios na Unicamp — Foto: Rodrigo Pereira/ G1 Campinas e Região

Ela acrescentou que o perfil desses grupos também tem mudado. "O imaginário migratório do Estado de São Paulo é sempre pautado pela imigração europeia, branca, do século 19 e século 20. E, hoje, a imigração que vamos receber cada vez mais no Estado de São Paulo é uma imigração Sul-Sul (entre países do hemisfério sul), uma imigração não Branca, uma imigração latino-americana, e que, portanto, é preciso que as localidades aprendam a conviver e ter uma visibilidade dessas migrações internacionais afim de que possam ter políticas sociais para que esses imigrantes aproximem cada vez mais da sociedade local", acrescentou.

E essas transições territoriais têm sido pautadas pelas fontes de emprego, de acordo com Rosana. "O que ocorre é que a instalação de empresas em outras localidades desde o final do século, os novos grandes investimentos e empreendimentos acabam atraindo uma mão de obra menos qualificada e migrante internacional. Então, esses diferentes polos de crescimento no Brasil também se refletem na possibilidade de imigrantes se direcionarem para essas áreas, e principalmente interioranas", completou.

Registro de estrangeiros por ano no Brasil

Ano Registros
2010 55.461
2011 76.463
2012 102.280
2013 114.065
2014 99.542
2015 65.535

Ainda conforme a pesquisadora, o perfil do imigrante que busca o mercado de trabalho é concentrado em pessoas entre 15 e 40 anos. Os migrantes que já vêm com qualificação ou com suas empresas, têm perifl mais envelhecido, acima de 40 e 50 anos, acrescentou. "Isso vai denotando perfis e necessidades de políticas distintas. No caso da Venezuela, chama atenção que temos uma presença feminina maior [...] E pro ano de 2016 a Venezuela em São Paulo já apresenta uma presença significante de crianças na composição familiar", acrescentou.

'Mito'

Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), o deputado Carlos Bezerra Junior participou da apresentação e ressaltou que é um "mito" a afirmação de que estrangeiros "roubam" emprego dos moradores locais.

"Todos os países que trabalharam com integração (de imigrantes), os estudos de impacto econômico mostram que no médio prazo há não apenas a integração desses nessa sociedade, com aporte cultural, vários aportes, mas há também um ganho econômico, porque há uma geração de empregos locais a partir da integração desses", apontou.

Ele divulgou que teve aprovado na Alesp um projeto que prevê isenção nas taxas de revalidação de diplomas para refugiados. "É um dos principais fatores impeditivos de reintegração [...] Estamos na expectativa da sanção do governador, que deve acontecer, no mais tardar, na próxima semana", afirmou. Hoje a taxa pode chegar a até R$ 20 mil, dependendo da qualificação da pessoa, segundo o parlamentar. Para ele, os estudos lançados darão condições para que a sociedade e o poder público se antecipem a problemas envolvendo crises imigratórias.

Solicitações de refúgio no Brasil
Fonte: Comitê Nacional para os Refugiados
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